Está se aproximando a celebração do Natal do Senhor, solenidade tão querida e amada por todo o povo e que, depois do Tríduo Pascal, ocupa o lugar de destaque na Liturgia da Igreja. Assim como a Páscoa é precedida do Tempo da Quaresma, o Natal é preparado pelas celebrações do tempo do Advento, que iremos viver a partir deste domingo. O Advento é, portanto, o tempo em que, “vivendo a esperança, aguardamos a vinda do Cristo Salvador”, como rezamos na Missa. Nele preparamo-nos tanto para a celebração litúrgica do Natal quanto para a vinda definitiva do Cristo.
A palavra ADVENTO (em latim “adventus”) significa “chegada, vinda”, fazendo referência também ao “aniversário de uma chegada, de uma vinda”. Inicialmente a palavra “advento”, na liturgia, referia-se ao nascimento de Jesus (sua primeira vinda/chegada) e também à comemoração do aniversário de seu nascimento. Depois passou a definir o tempo de preparação para o Natal e, em seguida, a espera da parusia (a segunda vinda/chegada de Jesus, já glorioso, no fim dos tempos).
As Normas Universais sobre o Ano Litúrgico e o Calendário (NALC) nos ajudam a compreender o sentido litúrgico deste tempo: O Tempo do Advento possui dupla característica: sendo um tempo de preparação para as solenidades do Natal, em que se comemora a primeira vinda do Filho de Deus entre os homens, é também um tempo em que, por meio desta lembrança, voltam-se os corações para a expectativa da segunda vinda do Cristo no fim dos tempos. Por este duplo motivo, o Tempo do Advento se apresenta como um tempo de piedosa e alegre expectativa. (NALC, n. 39).
O Advento tem como principal característica, portanto, uma espiritualidade da expectativa, da esperança. Ouvindo atentamente o anúncio dos profetas e de João Batista, toda a Igreja é chamada a ter as mesmas disposições de Maria, que acolheu a mensagem do Anjo, disse sim ao plano salvífico do Senhor e acolheu o Verbo de Deus em seu ventre.
Advento x Quaresma
Diferente da Quaresma, o Advento não é propriamente um tempo de penitência (o que não quer dizer que a penitência não seja importante na preparação para o Natal!), mas sim tempo de alegre esperança. Durante o Advento, de fato, não há motivos para ficar tristes ou abatidos. Ressoa em nossos ouvidos a palavra de Paulo, que é tomada como antífona de entrada do III Domingo: “Alegrai-vos sempre no Senhor; eu repito, alegrai-vos. O Senhor está próximo!” (cf. Fl 4,4-5). Como diz um canto deste tempo litúrgico: Que alegria que esperança, aguardar Jesus que vem! Renovemos nossas vidas, confirmemos nossa fé!
Durante o Advento devemos vivenciar a “mística da gravidez”: assim como Maria trouxe no seu ventre o Verbo Encarnado, vendo aproximar-se, dia após dia, a chegada do Salvador, toda a Igreja deve ficar também “grávida do Verbo” para trazer ao mundo a novidade do Reino de Deus.
Irmanados numa só fé e numa só esperança unimos nossas vozes no grito confiante: “Maranatha”, “Vem, Senhor!” (1Cor 16,22). É o brado dos que vivem a espera messiânica, a espera da vinda do Messias, o Cristo, que veio a primeira vez como homem, no ventre de Maria, e que virá novamente no dia derradeiro como Senhor e Juiz da História.
Nas celebrações litúrgicas
O Missal Romano indica que no tempo do Advento a cor utilizada é o roxo; no III Domingo (“Gaudete”) é permitido utilizar o cor-de-rosa. O roxo no Advento tem um significado diferente em relação à Quaresma: o Advento é tempo de austeridade, despojamento e expectativa, enquanto a Quaresma é tempo principalmente de penitência. O róseo no III Domingo acentua a mensagem da alegria: o Senhor está próximo.
No tempo do Advento as flores podem ser utilizadas, mas com tal moderação que não antecipem a alegria do Natal. O Advento perderia muito de seu sentido se houvessem tantos ou mais arranjos florais que no Tempo do Natal. Para ressaltar a proximidade da alegria pela vinda do Messias, no III Domingo podem ser utilizados mais arranjos de flores do que nos demais dias do Advento.

Outra característica notada neste tempo é a presença da Coroa do Advento no espaço litúrgico. Ela surgiu como um enfeite doméstico dos cristãos dos países germânicos e norte-americanos, e depois se difundiu por várias regiões do mundo. A Coroa do Advento é composta de quatro velas dispostas em círculo. A cada domingo uma vela é acesa. Retoma-se, de certa forma, a tradição judaica do “Chanuká” (Festa das Luzes, em comemoração à dedicação do Templo depois da profanação pelos invasores, cf. 1Mac 4,36-61 e 2Mac 1–2), em que um candelabro de nove braços (chamado de Chanuká ou menorá de Chanuká) é aceso gradualmente durante oito dias (o nono braço serve para acender os demais).
A iluminação progressiva da Coroa do Advento mostra que à medida que o Natal se aproxima cresce também a alegria e a esperança do povo. Devemos ter em vista a primeira leitura da Missa da noite do Natal: “O povo que andava na escuridão viu uma grande luz, para os que habitavam as sombras da morte uma luz resplandeceu” (Is 9,1).
Como afirma o Diretório sobre a Piedade Popular e a Liturgia, “a coroa do Advento, com o progressivo acender das suas quatro luzes, domingo após domingo, até à solenidade do Natal, é memória das várias etapas da história da salvação antes de Cristo e símbolo da luz profética que ia iluminando a noite da expectativa, até o surgimento do Sol de justiça (cf. Ml 3,20; Lc 1,78)” (n. 98).
Não existe uma norma quanto à cor das velas da Coroa do Advento. Elas podem ser todas roxas, ou todas brancas ou mesmo vermelhas, ou ainda três velas roxas e uma vela rósea (para o III Domingo) ou então nas quatro cores litúrgicas (roxo, verde, vermelho e branco). O simbolismo da Coroa do Advento reside na luz que vai aumentando, não na cor das velas.
Os cantos litúrgicos
No que diz respeito ao canto litúrgico, nos recorda o Guia Litúrgico-Pastoral da CNBB: “No início do ano litúrgico, ao longo de quatro semanas, a Igreja entoa um canto de vigilante, amorosa e alegre espera da vinda do Senhor, o Príncipe da Paz, o Emanuel, Deus-conosco. Este canto, antes entoado pelos profetas, João Batista e Maria continua ressoando no seio da Igreja que clama: ‘Vem, Senhor, nos salvar. Vem, sem demora, nos dar a paz’” (p. 86).
O Canto Litúrgico do Advento é de súplica, de clamor invocando a vinda do Senhor Jesus. O Advento é tempo de guardar as forças para transbordar de alegria no Natal; assim podemos compreender a ausência do “Glória” nas missas do Advento. O “Glória” é o canto de louvor entoado pelos anjos no nascimento do Salvador (cf. Lc 2,14) e por isso será reservado para a Noite de Natal e o tempo subsequente.
Ao contrário da Quaresma, no Advento o “Aleluia” pode ser entoado na aclamação ao Evangelho e em outros momentos. Os outros cantos assumem um tom mais lento, acompanhando a alegre expectativa messiânica e se deve dar mais espaço ao silêncio orante.
É tempo de alegria, de esperança e de preparação! Aproveitemos o Advento para abrirmos as portas de nossos corações para acolher o Menino Deus, que vem para nos salvar.
Por Pe. Laersio Machado
Vigário – Catedral de NSª de Fátima
Chanceler – Diocese de Imperatriz
Assessor Comissão Pastoral para Animação Litúrgica (CPAL)