Em 2021, houve o comunicado da Igreja, de que o Sínodo dos Bispos que seria em 2022, aconteceria somente em 2023, devido a pandemia de COVID-19. Mas a grande novidade do comunicado não foi em si a prorrogação, mas sim o percurso a concretizar até lá. Assim, para sermos mesmo capazes de caminhar juntos, como significa a palavra sínodo, foi definido um calendário com fases diocesana e continental antes do Sínodo dos bispos de outubro de 2023 no Vaticano.
Toda a Igreja está convocada pelo Papa Francisco a percorrer o caminho rumo ao Sínodo, com o tema “Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”. Assim, ele “convida a Igreja inteira a se interrogar sobre um tema decisivo para a sua vida e a sua missão: “O caminho da sinodalidade é precisamente o caminho que Deus espera da Igreja do terceiro milênio?”.
É com humildade que as dioceses do mundo acolheram o processo sinodal. Numa decisão de aceleração do tempo histórico e aproveitando a pandémica gestão do tempo a que estamos obrigados, o Papa Francisco não só faz do Sínodo o tema do Sínodo, mas força uma nova abordagem que será um grande desafio para todas as dioceses, a partir de uma “modalidade inédita” para a preparação deste grande evento.
A importância de um Sínodo para Igreja
O Sínodo, desde que foi instituído por São Paulo VI, tem se mostrado um instrumento adequado para promover a colaboração dos bispos com o Papa no governo universal da Igreja. É um instrumento de comunhão e de promoção da colegialidade episcopal.
A celebração de um sínodo sempre é um momento especial para o governo da Igreja, que está em comunhão em todo o mundo, pois os debates sinodais permitem ao Santo Padre uma ampla informação, estudo e sugestões sobre determinado assunto. O fruto desta ampla reflexão, geralmente se resulta em um documento pontifício sobre o tema abordado e que orienta as Igrejas Particulares espalhadas por todo o mundo.
O termo “sínodo” deriva do grego “sýnodos”, que significa “reunião”. O termo é composto pelo prefixo “syn” (junto com/junto de/junto a) e pelo substantivo “hodós” (caminho). O verbo grego synodéo significa “fazer um caminho com alguém”.
A constituição, de fato, do Sínodo, como o temos hoje, se deu em 15 de setembro de 1965, pelo Papa Paulo VI, através da Carta Apostólica sob a forma de Motu Proprio “Apostolica Sollicitudo”. Ali se define o que seja o Sínodo dos Bispos, de acordo com o pensamento dos padres conciliares expresso na Constituição Dogmática Lumen Gentium (Luz dos Povos).
A função do sínodo é “consultiva” (edocendi et concilia dandi se afirma no original latino). Contudo, o Sínodo pode ter uma função deliberativa, sendo que esta precisa ser ratificada pelo Romano Pontífice.
No Apostolica Sollicitudo, São Paulo VI explica que o objetivo do Sínodo é auxiliar o Papa na sua solicitude pela Igreja, em todos os lugares do mundo onde ela se encontra. Nessa mesma carta, o Papa Montini explica também que, como toda instituição humana, o Sínodo poderia ser aperfeiçoado com o passar dos anos, na sua estrutura e organização. É de fato o que tem acontecido nos pontificados que se sucederam desde então.
Com o Papa Francisco
Em continuidade da explicação de São Paulo VI, é possível exemplificar esse aperfeiçoamento através da Constituição Apostólica Episcopalis Communio, publicada no dia 15 de setembro de 2018, pelo Papa Francisco. O documento estabelece uma nova normativa, que abrange, entre outros assuntos: uma tipologia das assembleias do Sínodo, quem são os membros e outros participantes, os períodos da assembleia do Sínodo, as fases da assembleia, a composição e as tarefas da Secretaria Geral do Sínodo. Sendo assim, uma modalidade inédita é proposta pelo papa, em preparação deste grande evento com uma primeira fase vivida em trabalho de escuta em cada diocese e depois um outro momento alargado ao âmbito continental.
O objetivo é a “escuta real do Povo de Deus” para que seja possível “garantir a participação de todos no processo sinodal” – pode ler-se na nota da Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos. Precisamente, o conceito de processo é o método a utilizar. Algo que remete para uma ideia de movimento, o que implica gente em contato, debate e reflexão. Concretizando nas dioceses o próprio tema do Sínodo que fala de comunhão, participação e missão.
Para auxiliar as dioceses de todo o mundo na realização do caminho sinodal, a Secretaria do Sínodo dos Bispos publicou um vademécum que orienta os principais passos a serem dados na etapa que começará no dia 17 de outubro.
“Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão” é o tema do Sínodo que, pela primeira vez, será constituído de três etapas: diocesana (2021), continental (2022) e universal (2023). Na apresentação do Documento Preparatório do Sínodo, o Secretário-Geral do Sínodo dos Bispos, Cardeal Mario Grech, enfatizou que a etapa diocesana não será uma fase preparatória, mas já será um Sínodo e deve ter a participação de todos os batizados, pois “a Igreja quer entender melhor a si mesma”. O manual de 31 páginas oferece apoio prático às pessoas ou equipes diocesanas de contato, designadas pelos bispos para preparar e reunir o povo de Deus “para que possa dar voz à sua experiência na Igreja local”.
Ao criar a oportunidade de escuta e diálogo em nível local por meio deste Sínodo, o Papa Francisco está chamando a Igreja a redescobrir sua natureza profundamente sinodal. Esta redescoberta das raízes sinodais da Igreja envolverá um processo de aprender juntos, humildemente, como Deus nos chama a ser como Igreja no terceiro milênio”, consta no vademécum.
Na Diocese de Imperatriz
Em nossa Diocese, iniciamos a primeira fase no dia 17 de outubro (Domingo), em comunhão com toda a igreja no mundo, com uma celebração presidida por pelo nosso bispo Dom Vilsom Basso. Em sua homilia, ele reforçou que o Papa Francisco quer escutar, os padres, os leigos e leigas, religiosos e religiosas em três questões especiais: no que a diocese e a paróquia estão caminhando juntos, quais os desafios em caminhar juntos como igreja paroquial/diocesana, e por fim, que se apresente sugestões, soluções que superem essas dificuldades.
Para auxiliar esse processo, foi solicitado a cada bispo diocesano, que nomeasse uma pessoa de contato ou equipe para liderar essa etapa localmente. Essa pessoa ou equipe é também o elo entre a diocese e as paróquias, bem como entre a diocese e a conferência episcopal, responsável por reunir as contribuições de cada diocese e enviá-las à Secretaria Geral do Sínodo até abril de 2022.
A equipe formada para acompanhar essa fase, é formada por Dom Vilsom, por mim Padre Eliezer Paiva (Vigário Geral e Pároco da Catedral Diocesana), pela Ir. Rita Barbosa (Companhia Santa Teresa de Jesus) e pelo jovem do Setor Juventude, Daril de Deus. O objetivo da primeira fase do caminho sinodal é fomentar um amplo processo de consulta, a fim de recolher a riqueza das experiências da sinodalidade vivida, em suas diferentes articulações e facetas, envolvendo os pastores e os fiéis das Igrejas [locais] em todos os diferentes níveis, pelos meios mais adequados, de acordo com as realidades locais específicas.
Por Pe. Eliezer Paiva, Vigário Geral da Diocese de Imperatriz e Pároco da Catedral de Fátima.